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segunda-feira, 1 de agosto de 2022

De volta à unidade

" Retorno ao paraíso perdido, a re-união mente e corpo não pode sequer ser sonhada, em termos integrais.
Essa estranha entidade que é o ser humano, que somos nós, resulta irremediavelmente cindida.
O próprio exercício disso que se chama "razão" parece estar ligado, carne e unha, com a dissociação entre uma metade que "pensa" e um corpo que obedece. Estamos condenados à razão.
Mas é essa mesma razão dissociativa que pode nos aproximar, por momentos iluminados, da unidade perdida, era algum ponto-anos-luz no espaço/tempo.
Nós buscamos essa unidade na prática do lúdico e do erótico, na arte, no esporte, no amor e no sexo.
Nessas áreas do in-utensílio, há vida além da tirania do lucro e da utilidade.
Ao brincar e jogar, estamos salvos, livres. E de volta.
[...] é na própria vida cotidiana que está o segredo. É preciso resgatar a grandeza infinita dos gestos simples e "elementares". Cuidar da vida. Curtir a minúcia. Lavar a própria roupa. A louça. Arrumar a casa. Fazer sua comida. Tomar banho como quem realiza um ato sacro. Recuperar o prazer da prática dos atos primários. Saber que ser matéria, boca e estômago, é uma dignidade e um esplendor.
Dá trabalho.
Mas, para brilhar, as estrelas têm que arder, até o glorioso fim."

(Parte final de Corpo não mente. Paulo Leminski)

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