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terça-feira, 14 de maio de 2024

Eu sou isso


Quem conversa com vocês nesse espaço é uma mulher. Apesar dessa informação parecer bem óbvia para quem me conheceu pelo blogger, é uma novidade para quem conhece o Danificar e Subverter pelo instagram. 
E eu sempre falei como isso não importa, essa questão do gênero de quem escreve aqui. Sempre achei meio bobo, principalmente dentro do anarquismo, que nunca se imagine que ideias sobre política, subjetividade rebelde e bombas caseiras partissem de mulheres. Aliás, pensamos mais sobre isso do que vocês imaginam. 
Meu receio é que acontecesse o que sempre acontece: uma delimitação de quem eu sou a partir do meu gênero. 

Perguntei a um amigo porque ele acredita que pensam que é um homem falando "é porque você escreve com linguagem neutra" ele respondeu. E isso não é verdade, eu uso os artigos "a" e "o" em 100% dos textos, não por evitar propositalmente a escrita neutra, não tenho problema com ela e acredito que a linguagem deve, pode e precisa de mudança, eu os uso pois escrevo em primeira pessoa e utilizo os pronomes com os quais me identifico.
Acho que ele não sabia o motivo e tentou me ajudar a não ficar pensando muito sobre (obrigada amigo)

Meu gênero me define. Ele define minhas dinâmicas no mercado de trabalho, ele define quem eu sou nesta imensa periferia do capital, as minhas relações de amizade, o horário e como eu irei andar na rua, meus romances, ele dita tudo na esfera do que as pessoas esperam de mim e em como eu devo agir e quem eu devo ser nesse espaço social massacrante e normativo. Ele define quais violências irei sofrer e em como a sociedade as interpretará e tudo o mais que rodeia este universo dominado pela trinca: Família, Propriedade Privada e Estado. 

A insegurança de ser mulher está presente na vida de todas nós e nos acostumamos a ela. Eu não conheço nenhuma mulher que nunca sofreu um violência física ou se**ual ou psicológica. Tentamos justifica-la, tentamos não falar sobre. Mas na real, em 90% do tempo eu me sinto uma criatura de segunda categoria, não validada pelas pessoas ao meu redor e não considerada plenamente capaz por absolutamente ninguém.
(Os outros 10% do tempo eu estou dormindo).

Eu sou o meu gênero e eu não aceito isso, nunca aceitei. E essa bola de ferro eu irei arrastar acorrentada ao meu tornozelo pelo resto dos meus dias.

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