Páginas

Translate - Tradutor

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Entrevista com a Ruim + lançamento do Split (Ruim/Trampa) Criaturas del Inframundo

E vamos com novidades!!

Dia 1 de maio de 2020 a Ruim, juntamente com o Trampa, lançou split intitulado Criaturas del Inframundo em todas as plataformas digitais que existem.





A última vez que a Ruim lançou um material fora das plataformas digitais foi em 2017 [falei disso aqui] e em outubro de 2019 lançaram digitalmente o single Destroços Humanos que teve como plano de fundo o holocausto do "Hospital" Psiquiátrico de Barbacena-MG que me impactou muito. Foi ouvir esse single que me deu coragem de assistir o documentário sobre esse holocausto brasileiro, então essa musica ganhou um outro significado para mim tornando-se  ainda mais pesada,  mais densa e quando eu a escuto entro num modo de reflexão e estática. É uma sensação que eu ainda estou processando.
Agora a Ruim chegou com esse split junto com o Trampa (Bogotá-Colombia) [ interações que só o punk proporciona ]
Arte da capa: Wilson J. Melo, adaptada por Jaime Chang e Tiago Sousa.

Sobre o split

Falando da produção do split, o lado da Ruim foi gravado no Estúdio do Cuca Mondubim. A gravação, masterização e a mixagem foi feita pelo Dudu Madeira.

Do lado do Trampa, gravação e mixagem por Sergio Gonzales no Rat Trap e masterizado por Sergio Gonzales e Fuerza Ingovernable.
Conheci o Trampa através desse split e achei foda e incentivo vocês a ouvirem os outros materiais deles no link do bandcamp que deixei ao final deste post.
Formação: Chavo (voz), Luis (guitarra), Jacobo (guitarra), Oski (baixo) e Hander (bateria).


A Ruim é formada por Tiago(voz), Bruno (baixo), Jaimes (guitarra) e o Walter walterista (bateria) e eles foram muito gentis em me conceder a mini-entrevista a seguir, obrigada.


Entrevista


DS - Eu já falei da Ruim em outras publicações porque é uma das bandas que eu mais me identifico daqui de Fortaleza e nos shows de vocês pessoas de diferentes estilos também se identificam. Como vocês definem a Ruim? E porque vocês acham que pessoas fora do rolê punk também se identificam?

Tiago (voz): Valeu pelas publicações anteriores. A identificação além do carisma, (risos), dos integrantes deve ser devido a mescla de influências da banda. D-beat punk niilista. Tocamos com bandas de estilos sonoros bem diferentes do nosso, acho que isso faz com que pessoas de que curtem gêneros musicais diferente do nosso tenha um primeiro contato com o nosso som e se identifique de alguma forma.

Bruno (baixo): A Ruim para mim, assim como as outras bandas que participei são como válvulas de escape, onde a gente põe para fora nossas inconformidades, gritando, tocando, gastando energia junto de pessoas que gostamos de estar, só o fato de ensaiar já é algo que deixa revigorado no fim, sentimento de satisfação. Sobre o fato de pessoas fora desse rolê punk se sentirem atraídas pelo som acredito que vem tanto das influências musicais que Jaime incorpora na hora de compor riffs e bases como a estética soturna, trevosa que a banda carrega, além da lírica claro. 

Jaime (guitarra): Ruim é produto de frustrações, desilusões e lamentos. Cada faixa explora a versatilidade de como foram apresentadas. Ruim é sentimento de coração aberto. É a trilha sonora de assumir as circunstâncias do presente. Uma pandemia se programando junto com o lançamento, acha coincidência?

Walter (bateria): Pra mim a Ruim é basicamente uma banda de punk com influência de pós punk, crust e hardcore, e acho que quem escuta se identifica com a batida dançante (por falta de palavra melhor), amargurada e estimulante!

DS - Em relação a produzir esse split com o Trampa (Bogotá-Colômbia), como foi o processo de gravação e interação com uma banda de longe?

Tiago (voz:) A gravação foi bem tranquila, já estávamos ensaiando os sons a bastante tempo e o entrosamento estava muito bom, em poucas horas gravamos tudo. O contato foi feito pelo nosso guitarrista.

Jaime (guitarra):  Captar a gravação foi muito bom, a gente já tinha todos os sons decorados! Uma detalhe é que a intro do material novo foi feita no mesmo dia sem ensaio prévio.

Trampa são todos venezuelanos exilados na Colômbia. Só o Jacobo, um dos guitarristas é da Colômbia. 
O baixista é o meu melhor amigo, Oski, ele tem outra banda com venezuelanos chamada Exilio.
Na época o Oski tinha feito uma viagem de volta para Venezuela para recuperar o seu passaporte (A burocracia transforma o fácil em difícil e muitas vezes em inútil). O passaporte dele ficou pronto quando ele já tinha desistido e saído daquele país. 
Trampa 
Eu vi uma postagem no flyer internacional de punk do México que uma das bandas dele estava programada para tocar junto a outros colegas venezuelanos (Mar de Rabia). Com essa meta atingida que justificou o retorno do Oski ao pesadelo, o saldo da odisseia foi um carimbo vermelho no passaporte, ficando ainda mais complicado para voltar ao país de origem e visitar a família dele ou viajar para o estrangeiro. Outra dificuldade foi a nossa comunicação para encaminhar o projeto do split. O Hander (baterista), que conheci poucos dias antes de eu ir embora da Venezuela,faz Silk (arte em camisas, estampas) também. O Chavo (vocal) é tatuador e o Luis (guitarra), com que eu tive contato é o único da banda que está com um celular, porém demorava 2 dias para me responder.
Como puderam apreciar a realidade do meu melhor amigo, é complicado a rotina laboral e os trâmites de legalidade para um estrangeiro. A xenofobia dificulta tudo ainda mais. Ele me diz que chegou até o ponto de nem falar! Se for o caso, interagir brevemente pra o pessoal não reparar no sotaque. Todas essas circunstâncias podem ser apreciadas nas letras do Trampa. 

Produzir o split com Trampa foi frustração e desilusão. 
O lamentável é ter aguardado tanto tempo. Cada banda deve assumir a função do seu nome, né? 
Procura a definição de "trampa" em português.
O que compensou do tempo em espera foi o peso do apocalipses no outro extremo do balanço. Pode conferir no material.

DS - O que mudou da gravação de 2017 para essa que estão lançando hoje? (em relação a amadurecimento. comportamento e proposta)

Tiago (voz): O entrosamento entre os integrantes, foi de grande valia para o lançamento desses sons.

Bruno (baixo): A primeira foi financiada, desembolsamos uma grana que tínhamos guardado e questão de mix e master ainda tivemos um dorzinha de cabeça porque o dono do estúdio/técnico fez o trabalho de qualquer jeito, nos mandou várias versões do som em que nenhuma soava como a gente queria, no fim Tiago e Jaime tiveram que ir lá e dizer como queriam que soasse. É foda depender dessa galera porque levam em conta apenas o nome do seu estúdio/trabalho e não a proposta da banda/artista em questão. Os vocais ficaram absurdos, delay no talo atropelando tudo, acho que bem mais fiel a banda ao vivo. Na segunda gravação, tanto a do single “Destroços Humanos” quanto a do “Criaturas del Inframundo” fizemos em duas partes, na segunda metade de 2018 e outra na segunda metade de 2019 no estúdio do CUCA Mondubim num esquema gratuito pois o equipamento advém da prefeitura. O Eduardo “Dudu”, responsável pelas gravações lá é muito gente boa e super aberto a tudo que você quiser fazer, logo isso deixou a gente bem mais à vontade. Os vocais ficaram bem mais “audíveis”, questão de dicção e tal, dá para ter mais clareza das letras. Eu particularmente gosto muito de ambas as gravações, para mim foi um processo de amadurecimento real, antes da banda nunca tinha pego num instrumento musical, aprendi na tora tipo um mico amestrado, Jaime me passou som por som, onde devia apertar e bater nas cordas etc. (risos). Quanto a proposta segue a mesma acredito eu, só desesperança, frustração e má vontade. (risos)

Jaimes (guitarra): A proposta da gravação de 2017 eram 12 faixas fazendo referência aos dígitos do relógio (uma faixa ruim para cada hora) Era mais pontual porque cada som era para ser num estilo diferente: tentamos fugir ou enganar de 12 jeitos diferentes mas o caminho de cada faixas conduzem ao mesmo destino. Tem um gráfico diagramado em nossa primeira estampa.
O lançamento de hoje é mais sensorial. É absorver a indignação, repúdio e toda a ampla gama que oferece a humanidade. A fonte de onde eu extraio tudo é potência mundial nessa matéria (Procurem "Venezuela" - tem dois realidades pra escolher). Depois de assistir esse conteúdo, geralmente desabafo fazendo uma composição num estilo que dê para pelo menos "curtir" esse descenso iminente em espiral! Por isso o delay no vocal né? As pancadas da vida na bateria, guitarra fria e estridente e o baixo entonado no ego da banda.

Walter (bateria): Depois de um tempo tocando as músicas da primeira demo, rola uma confiança maior na hora de entrar no estúdio, fora a convivência com a galera que ajuda a definir a identidade da banda!!

DS - Essa pergunta é padrão por aqui: Quais as influências sonoras individuais de vocês, o que vocês escutam? [indiquem bandas boas!!]

Tiago (voz): Tanto bandas do final dos anos 70 como bandas mais atuais. Punk, d-beat, crust, grind, rap. Urchin(d-beat), Impalers(hardcore), Cankro, Dead Enemy, Framitd, Deafkids, Zodd, Muro, Pröjjetö Macabrö, Warthog.

Bruno (baixo): Eu escuto um mói de coisa variada desde Bjork, M.I.A., Kraftwerk a Iskra, Amenra, Subtera, passando por João Gilberto, Interpol, BadBadNotGood, Tangerine Dream e tantas outras (me julguem). Mas queria separar umas indicações aqui mais na linha da banda (ou não):



1.     Blazing Eye, Ódio, Zodd, Maquina Muerta e Destino Final – Acredito que as bases de maior influência da Ruim e o que motivou a gente a formar a banda, vocal dentro da caverna, batida primitiva, crueza e pogo selvagem!

2.     Iskra – Black Metal anarquista com mina no vocal, lá do Canadá, é tipo um “panzer division” do Marduk só que com postura libertária, rolo compressor antifascista!
3.     Contagium – Stench Crust também do Canadá, possuem um ep e um full que são um absurdo de tão lindos. É um power trio onde todo mundo canta e toca, trilha sonora do fim do mundo!
4.     Ìsinkú – Black Metal pagão la de Natal/RN, nome em iorubá, letras em tupi guarani e lírica que abordam rituais fúnebres, canibalismo, misticismo e por aí vai, coisa fina!
5.     Amenra – Post metal da Bélgica, acho que pelo menos ¾ da Ruim curtem valendo, tal hora bebemos um pouco da banda aí também, a última faixa do primeiro ep (Mágoa) é bem diferente do que fizemos no resto das músicas do EP e vai bem na linha Amenra, saquem alguns shows ao vivo e tirem suas próprias conclusões.

6.     Pessimista – banda de Fortaleza formada por Elton (um amigo que mora com a gente) e Jorge Matagato, figurinha antiga do underground alencarino. Grindcore old school, grosso e sem rodeios, vocais e guitarra gravados pelo Tiago nosso vocalista no melhor estilo DIY num home studio que está montando em casa, lançaram o material recentemente e tá sensacional, sem dever nada pra gravações de um estúdio grande.

Jaime (guitarra): HEZ, Exit Order, Sial, Krimewatch, Zodd, Haram, Blazing eye, Impalers, Máquina Muerta, Strutter, Irreal, RUT, Korrosive, MATI, Odio , Destino Final, Invasión, Impulso, Muro, Demonios Salvajes, Exilio, Cadáveres Podridos, Mar de Rabia, Pura manía, Lux, Nots, Diät, Institute, Generación Suicida, RITO, Heterofobia, Devil Master, Blank Spell, Black Pus, Olor a muerte. 
Atualmente estou ouvindo Hugo Blanco, Simón Diaz e Daniel Grau pra manter contato com minhas raízes.

Walter (bateria): Acho q minha principal influencia é o Jaime, ele é o maior responsável pelo modo como toco bateria na banda, mas fora isso tem as bandas de punk/crust, bandas latino-americanas, Sial, Ódio, Haram...!!

DS - Vivemos, no Brasil e no mundo,  um cenário de pandemia e isolamento social. Politicamente e economicamente, são tempos sombrios para os sonhadores. Saber que ainda tem gente produzindo e lançando coisas me deixa feliz.. me motiva... inclusive me motivou a escrever hoje. E eu queria encerrar perguntando: o que lhes motiva a continuar?

Tiago (voz): A amizade e gostar de ouvir e tocar esse estilo de som.

Bruno (baixo): Acho que o que motiva é o mesmo que te motiva, saber que ainda tem gente produzindo coisas, organizando lives, fazendo o artivismo acontecer, isso nos conecta de maneira profunda e nos instiga, além de para nós ter esse retorno positivo tanto de pessoas queridas por nós quanto uma pessoa do outro lado do mundo que nunca vimos na vida, elogiando e financiando o que fazemos, daí a gente saca que está no meio certo e fazendo a coisa certa.

Jaime (guitarra): Assumindo o nome de banda, é nossa função registrar o que está acontecendo: seja musical, com lírica, com audiovisual ou graficamente.
Ninguém aprende por experiência alheia, mas as trilhas já estão capinadas para continuar o descenso em espiral.

Walter (bateria): Acho que ter uma visão mais crítica do mundo acaba sendo um estímulo, a revolta, o ódio, a necessidade de se posicionar, que tem sido tão necessária e ter essa rede de pessoas que corroboram com nosso posicionamento, que dão apoio, que celebram junto com a gente, isso é massa demais!!!


____________________

Eu adoro essas mini-entrevistas porque é quando conhecemos a personalidade tanto de quem pergunta quanto de quem responde trazendo elo e sentidos às coisas. 
O que mais faz eu me identificar com a Ruim é a resiliência que está envolvida tanto na banda como nos membros que a compõem. São pessoas que conheço de perto e eu participei, como espectadora, da gravação das musicas que estão nesse split e ver ele ficar pronto me deixou muito feliz. A gravação ficou foda e porra eu gosto das letras é claro que já sei todas, eu gosto da composição musical e dessa batida dark punk niilistas do caralho.. <3

..e tem mais..

Meus consagrados..
Deixarei de brinde pra vocês o split para download e outros links abaixo para vocês ouvirem essas bandas.


Links importantes



Instagram Trampa

Mercúrio Música Bandcamp Conheçam outros lançamentos deles!


Abraço e até a próxima!


Nenhum comentário:

Postar um comentário