A parte boa de ser reservada é poder agir por si mesma sem a influência/julgamento de pessoas e coisas do nosso convívio. É um tipo de liberdade que nem todo mundo experimenta. A parte ruim, que estou em sério conflito intelectual se anula a boa ou não, é de que acabo por não saber lidar com que estou sentindo quando as coisas perdem o rumo. Talvez isso aconteça porque o ato de não falar faz a gente engolir aquilo e achar "ah..eu aguento". E vamos guardando essa sensação achando que ela serve para alguma coisa, que ensina algo. Contudo, depois dos últimos três meses, passei a considerar isso um auto boicote. Uma auto punição que não serve para nada além de colocar a gente pra baixo e fazermos duvidar da nossa personalidade, vontades, escolhas e acertos. Focamos nos erros e achamos que somos aquilo.
É torturante.
"Nem o pior inimigo te causa tanto dano quanto teu próprio pensamento"
Gaslighting é uma forma de diminuição. É como pegar algo imenso..enorme (que é o que todos nós somos) e fazer ele caber em um frasquinho de vidro. E para quem sempre soube da própria capacidade, como eu, é um tipo de afronta que a gente não acredita que está acontecendo, ainda mais porque provém de pessoas muito próximas. Pessoas que confiamos, que dividimos medos, conquistas, vontades, fraquezas, que nos conhecem e usam quem somos contra nós mesmas.
Como no meu caso era algo temporário com dias contados, cada final do dia eu pensava o quanto aquilo era uma loucura, que não me afetava e que o máximo que conseguia era me deixar com raiva. E eu estava enganada. Pouco a pouco isso foi me consumindo, me prendendo. A cada dia o "estúpida", "arrogante", "feminista burra", "isso não aconteceu, mentirosa", não me causava raiva, não me causava sensação alguma e eu achava que era porque não estava tendo efeito em mim.
Errado.
Escutar esse tipo de coisa sobre si mesma pelo fato de você ser você e isso incomodar o outro e não sentir nada foi a parte mais baixa em que cheguei. Significava que eu absorvia.
Olhar para esse tipo de situação (que alcançou outros níveis) e pensar "isso é o máximo que você consegue, tente de novo com mais vontade" e simplesmente não agir sobre a circunstância é deprimente. É aceitar. E eu aceitei mesmo, confesso, mas não foi de propósito.
Você começa a duvidar de quem você é, do que você quer. A capacidade de decidir (que sempre foi algo confortável e corriqueiro) vai sendo afetada. Você perde a vontade de fazer as coisas. Você se sente ninguém.
Fico me perguntando o que eu queria responder para mim. Qual dúvida eu tinha para passar por isso sem por um fim imediato. Eu achava que eu estava indo bem, mas não estava, estava me anulando.
"Paz é quando você se perdoa"
Meu "recomeço" não é apenas com algo palpável, material, é algo comigo e pra mim. É em voltar a acreditar em mim.
"Eu me basto" é uma frase que já usei muito e hoje não me reconheço nela. Mas tudo tem um fim, tudo tem um começo e eu ainda estou aqui e não vou a lugar nenhum. Vou permanecer em mim e pra mim. É a hora de dar uma de Jean-Paul Sartre e começar a fazer algo com o que fizeram de ti. Não se aniquilar pelo medo, não piorar por não reconhece-lo. E que no final sobre apenas eu.
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Observação importante:
Nesse link existem 14 situações enumeradas pelo grupo Livre de Abuso (baseado em um psicanalista chamado Robin Stern) que mostram que você está sendo vítima de gaslighting, são estes:
Nesse link existem 14 situações enumeradas pelo grupo Livre de Abuso (baseado em um psicanalista chamado Robin Stern) que mostram que você está sendo vítima de gaslighting, são estes:
- Você duvida de si mesma constantemente.
- Você se pergunta “Eu sou sensível demais?” várias vezes ao dia.
- Você constantemente se sente confusa ou até mesmo maluca.
- Você está sempre pedindo desculpas ao seu parceiro.
- Você não entende por que, com tantas coisas aparentemente boas na sua vida, você não está mais feliz.
- Você frequentemente cria desculpas para justificar o comportamento do seu parceiro para seus amigos e sua família (ou até para si mesma).
- Você começa a esconder informações dos seus amigos e da sua família para que não tenha que explicá-las ou inventar desculpas.
- Você sabe que algo está muito errado, mas nunca consegue expressar exatamente o que, nem para si mesma.
- Você começa a mentir para evitar as distorções da realidade e ser posta para baixo.
- Você tem dificuldade para tomar decisões fáceis.
- Você sente que costumava ser uma pessoa muito diferente – mais confiante, mais divertida e mais relaxada.
- Você se sente desesperançosa e desanimada.
- Você sente que não consegue fazer nada certo.
- Você se pergunta se é “boa o suficiente”.
Se alguém que você conhece se sentiu assim de alguma forma e você quer fazer algo legal por essa pessoa, escutar sem culpá-la é bom.
Se você quer fazer algo um pouco além, não imponha condições a essa pessoa. Não diga a ela "você pode ficar aqui se você se livrar do gato e do cachorro". Seja paciente e não exija que ela tome uma atitude como se fosse algo simples é um momento difícil e novo e muito agressivo.
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